Pequenos terremotos

De repente, enquanto as crianças estavam se divertindo ao som de  "Jump, jump jump jump..." no carpet, a professora percebeu que não eram só as crianças que estavam se movendo na sala. Primeiro a casinha de bonecas com os seus personagens tremendo no sofazinho, as panelinhas da cozinha no Dramatic Play deram leves mexidas e a bandeira deste país pendurada perto do quadro por pouco não caiu. A decoração para o Spring Time foi um pouco prejudicada com uma das flores despetalada. Uma butterfly sem uma das asas. Uma dos papéis coloridos do rainbow pendurado sobre a mesa foi derrubado. 

Um prédio de blocos recém-construído teve sua estrutura abalada mas o pequeno arquiteto pensou que foi o colega que estava ao lado montando o seu airplane. O que tinha a mania de usar os blocos como armas tinha faltado. 

As crianças, pelo visto, não sentiram nada. E como poderiam sentir? Se elas também fazem parte daquilo? Elas têm o poder natural de mexer com tudo. Fazem tremer o mundo de todos. Podemos ficar completamente sem chão apenas com uma perguntinha delas. Uma observação. O rápido perdão. São pequenos terremotos diários de emoção. 

Doce Maya

Desde pequena foi avisada que talvez um dia teria a sorte ou o azar de ser levada para um lugar chamado escola. Seria exibida para pequenos e curiosos estudantes. Alguns teriam medo dela, mas a professora os deixaria mais tranquilos. 
Enquanto construía a sua teia, foi surpreendida não por uma mosca ou mosquito, mas por um plástico a envolvendo. Desta vez a presa era ela. Lembrou do aviso. Achou que ficaria totalmente sufocada, mas conseguia respirar graças a uma pequena abertura na parte de cima do invólucro.

 Acordou no dia seguinte numa sala colorida e cheia de olhos lhe observando com a ajuda de lupas. Apenas uma criança, a Grace, nem chegou perto, dizendo com um olhar assustado que tinha muito medo. De longe, Grace só ouvia atentamente a professora lendo a história sobre aranhas, enquanto ia mostrando a pequena criatura para a turma. 

Foi quando a menina que parecia ser a mais doce, do nada, deu um tapa bem em cima do animalzinho de oito patas. E nem deu tempo dele usar o poder dos seus quatro pares de olhos para tentar escapar.  

Todos ficaram boquiabertos. 

- Maya, por que você fez isso? 
- Ela estava se movendo. 
- Sim, claro -ainda impressionada falou a professora - Ela estava viva, Maya. Agora, ela não mais se moverá. 

Maya não deu nenhum sinal de arrependimento. Pelo contrário. Ficou aliviada. Disse que foi a sua mãe que havia lhe ensinado. 

Grace lentamente foi se aproximando. E vendo a aranha imóvel, ao constatar que ela estava mesmo morta, seu olhar que antes era assustado, ficou de lágrimas marejado. 

 Hey, daddy! How are you? I hope everything is ok over there. I remember that you told me to make my therapy talking in English. You said to me that is going to be good if I don´t speak in Portuguese. And then, here I am. Now, I’m trying to write only in this language. In some ways, it’s like therapy.

I have an idea. What if I write a book about conversations with you? But it must be in English. Even if I use the wrong words to tell this story, I’m really interested in making it. Maybe I will send it to Brad (remember him? The one who you confused his name with bread? The one who you called “The mysterious guy “or something like that?) I think he can correct this text. He’s an excellent professional. But if he cannot do it, it’s ok (he’s always busy, he’s a Leo I know you dont believe in these things).

No, daddy. It’s not snowing here but it is raining leaves! Yes, it’s Fall! The trees are beautiful. The colors of the season came and it’s so pretty. I can watch from inside the house, through the window. It's a wonderful nature presentation. 

We went outside and it’s too cold. I must confess that it is not my kind of weather. You already know about that, righ

When I saw the gray sky, I almost gave up. I was in my place in this room, warm and comfy, thinking about cancelling the Saturday that Brad was plaining during all week. When he noticed that, he said that he was leaving the house with Miguel and our dog Mika (I cannot resist thinking about the name you could call her. I’m sure that will be another funny one like Ferrari, Jeep, Mesquita, Adamastor, Caboge, Chernobyl…). Suddenly I changed my mind and my clothes. I decided to go outside with them.

I have to confess that it was better to go than stay at home. Because even on cold days we can have fun meeting some friends. Even when is not like the old times in Brazil. I was complaining about the distance from here to the place we went but the friend we met said the right thing. She said that she could see and appreciate the beautiful trees. I super agree with her. What a good observation! What a good way to see life! Isn’t it, daddy? I know you agreed with her too.

The leaves are falling and they fall like dancing. 

  I must try a way to stay warm. I must try a way to be strong. To be happy in this country. In this city. In this house. With them. My two mysterious guys. My two American guys.

It’s almost 18:00. The Virgin Mary’s hour. The time is running but I didn’t notice because I was writing these words. In English! Can you believe it, daddy? Me neither. Oh, I almost forgot to tell you that I got a job here. I’m working with children. I’m a teacher assistant in a classroom with 12 children. They are 3, 4 years old. What do you think about that? I know, it’s not my field. I’m a copywriter, but I got tired of that.

Now, I am enjoying the experience with children again. I worked with them before in Brazil, remember? Sometimes I feel like I’m playing with them. The problem is with the adults. My problem is how I must communicate with the adults. How can I communicate in the right way with them? My English is not very good yet and I don’t know it’ll be good someday. You know what I mean.

I'll keep trying to do my best. And let me tell you something: yes, now I think I'm happy. 

But, as you can see...

"How I wish, How I wish you were here!!!!" 🫂

Miss Coração

 Miss Karina está de volta... mas agora pelas bandas de cá de Connecticut. Só assim para me fazer esquecer do medo de falar. Só assim para soltar essa língua. 

O contato com eles me faz bem. É divertido mesmo quando não pode ser. A brincadeira com eles é coisa séria. Não tenho como escapar. Eles não permitem. 

Somos um time. Uma é o cérebro, a outra é a coragem, disciplina que eu também preciso. E como não poderia ser diferente, sou o coração da equipe. 

Às vezes um adulto pode não me entender. Mas as crianças... Essas até quando não me entendem, podem me compreender. Me traduzir. 

Como o nosso Gonzaguinha lindamente cantou, eu também continuo preferindo ficar com a pureza da resposta das crianças. A pureza que consegue enxergar, apesar de tudo, a beleza da vida. 

"The falling leaves..."

 

Autumn Summer 🍂🌻

 No automático o porta-retrato escolheu essas duas imagens. 

Uma no outono outra no verão. 

Já a foto que fiz mostrou também uma pequena primavera.

A mesma Karina em três estações. 

O sol presente, mas de formas diferentes. 

Assim como as minhas maneiras de estar sorridente.

Nem tão fria. 

Nem tão quente. 

Uma bonita aquarela.

Será assim também com o inverno quando este pintar pela janela. 

E por essas tantas telas.

 - Vamos comemorar o seu aniversário em junho!  - 

Foi falando isso que me despedi de você pessoalmente. Crente que íamos nos ver de novo. Crente que teríamos mais tempo. Mas, não... Infelizmente você partiu antes. E ao escrever isso agora me doeu. Eu sei que tudo passa, pai. Você tem razão. Mas essa dor eu acho que não vai passar. Ela pode até ser amenizada com o passar dos anos, e tentando praticar as lições que você nos ensinou, porém as lembranças, elas vão para sempre permanecer. Na mente ao lhe perguntar sobre qualquer assunto, e a imaginar o que você sabiamente, às vezes suavemente sarcástico, me responderia. 

Seja nas músicas que eu ouvir, nos filmes que assistir, nos lugares que eu visitar, em tudo de lindo que esse mundão nos oferece diariamente. É só a gente ajeitar os óculos que conseguimos enxergar 😉. 

Painho, meu profeta preferido. Por quem sempre fui apaixonada, muito obrigada. Fico feliz por poder ter lhe agradecido a tempo. Mesmo você falando que não precisava. Fico feliz também por ter lido você dizer tantas coisas que até então eu não sabia. Fico feliz, pois lembro que essa era, foi e sempre será a sua vontade: que a gente seja mesmo feliz!

 Pedro Jorge, essa sua filha mais velha acabou não indo lhe dar o último adeus, "aquele adeus não pude dar..." Por medo, covardia, loucura, falta de organização , planejamento, sei lá, acho que também por não querer acreditar num fim. 😢 ? ... 

Espero que você possa me perdoar. Espero que eu possa também. Espero que possamos um dia nos reencontrar. E que o abraço que não lhe dei, possa ser dado bem forte com você em pé e respirando bem, sem precisar da ajuda de nada e de ninguém. Assim como dei no meu avô Paulo naquele encontro disfarçado de sonho. 

Te amo, pai. Que você esteja na mais pura paz. Executando o seu lindo trabalho como médico. Atendendo com sabedoria , curando com suas palavras divertidas por mais que as situações se apresentem doloridas. 

 Você certamente está fazendo a diferença com a sua apaixonante presença! Orgulho de ser sua filha, Dr Pedro! Obrigada por ter identificado em mim com o seu olhar clínico o que nenhum conseguiu ver. 🥹

Saudades, meu pai! Beijos, painho! Vc sempre estará aqui coNousco! ♥️✨🙏🕊️